"A ideia de que em Portugal só passamos a ter emigração com esta crise é falsa", assim como "é falso que tenhamos tido mais emigração que noutros países", garantiu esta manhãPassos Coelho, no último debate quinzenal desta legislatura. Por exemplo, "na Irlanda o saldo migratório foi mais grave", assim como em Espanha. O PS foi ver os dados do Eurostat, que mostram que a emigração cresceu muito mais em Portugal, para concluir que Passos Coelho mente.
Importa, antes de mais, ter em conta que se trata de dois indicadores diferentes: o que Passos Coelho diz é que a diferença entre entrada de imigrantes e saída de emigrantes foi mais positiva em Portugal do que foi na Irlanda e em Espanha; o que diz o PS, com base nos dados do Eurostat, é que o número de pessoas que saíram de Portugal entre 2010 e 2013 é muito superior ao registado nos outros dois países - nestas contas não se conta a entrada de estrangeiros no país.
Ora, segundo o Eurostat, a emigração permanente cresceu 126% em Portugal entre 2010 e 2013, ao passo que em Espanha cresceu 32% e na Irlanda apenas 7%. Portugal é assim o terceiro país que mais viu aumentar a emigração na União Europeia, sendo apenas superado pela Hungria e pelo Chipre - que regista valores estratosféricos, com um crescimento da emigração próximo dos 500%.
São provas suficientes para o PS considerar que Passos Coelho mentiu ao falar sobre a emigração.
Já durante o debate, Ferro Rodrigues tinha confrontado Passos Coelho com "mitos urbanos", como o primeiro-ministro classificou as suas próprias alegadas declarações de incentivo à emigração. O líder parlamentar do PS relembrou declarações de Passos em que este pedia aos portugueses para não serem piegas, em que reconhecia que Portugal só sairia da crise empobrecendo ou que aumentar o IVA não tem fundamento.
Ninguém encontrou uma frase a apelar à emigração, diz Passos
Passos Coelho rejeitou ter subido o IVA - o que houve foi uma "recomposição do cabaz de bens" - e disse que "ainda ninguém apresentou uma frase minha a convidar os jovens a emigrar". "Não descobriram, não há", atirou.
E desvalorizou a que lhe é atribuída. "O melhor que conseguiram foi encontrar uma frase minha em que dizia, a propósito dos professores e do facto de não haver jovens em quantidade suficiente para constituir mais turmas, que tinham a possibilidade ou de se reconverterem cá ou de olharem para o universo de língua portuguesa", relembrou. "E disseram [os jornalistas]: este foi o grande apelo. É preciso uma grande imaginação para ver nisto um convite ao país para emigrar", ironizou.
Bruno Simões
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