Ao contrário do que era esperado, a emigração não abrandou e os portugueses continuaram em 2014 a sair de Portugal ao mesmo ritmo que saíram em 2013. Os valores mantiveram-se assim no pico atingido em 2013, de 110 mil saídas, de acordo com dados provisórios do Observatório da Emigração (OEm). Esses valores, apesar de "elevados", correspondem a uma "estimativa prudente", abaixo da realidade, diz Rui Pena Pires, coordenador do OEm. As pessoas que deixam Portugal não são apenas pessoas sem emprego. São também pessoas com empregos muito precários, explica o sociólogo.
"Eu estava à espera que os valores começassem a baixar. Toda a gente estava à espera, incluindo o Governo. Não é possível estar sempre a crescer", diz Rui Pena Pires. E explica: "Quando a situação económica em Portugal estabiliza", e isso aconteceu em 2014, "é normal" que os números da emigração comecem a baixar. "O que vemos é uma estabilização num patamar muito elevado."
Menos portugueses escolheram o Luxemburgo ou o Brasil como destino de emigração em 2014 e mais pessoas optaram pela Dinamarca, Espanha ou o Reino Unido, quando comparados os valores com os de 2013. As saídas para Angola e Moçambique também cresceram. Nos totais estimados, os valores das saídas para o conjunto dos principais países de destino, mantêm-se, como se lê numa síntese publicada esta terça-feira no site do observatório. É o primeiro alerta sobre os dados de 2014. Os números recentemente publicados pela OCDE eram relativos a 2013.
Os dados do OEm são calculados com base nos números dos institutos nacionais de estatística dos 15 principais países de destino, e alguns não estão disponíveis no primeiro semestre (como os da Suíça ou França). Por isso, os totais de 2014 são apresentados como provisórios. Em Dezembro, o OEm vai rever estes dados - já contabilizando os números que entretanto ficaram disponíveis nos principais países, e essa revisão deve ser feita em alta. Nunca aconteceu a revisão resultar em valores mais baixos, diz Rui Pena Pires.
É preciso recuar à década 1960 ou 1970 para se encontrarem valores tão elevados (acima dos 110 mil) durante dois anos consecutivos, acrescenta o professor e investigador Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE - IUL), que lembra um ano em que os valores atingiram os 150 mil, mas baixaram no ano seguinte.
O que é agora surpreendente é esta persistência da tendência, refere. Tal significa que "não existem, neste momento, sinais de que a situação possa inverter-se", e que o crescimento da economia não resultou na criação de emprego. "O importante aqui" é a criação de emprego, "e estes números mostram que a criação de emprego não cresceu ao mesmo ritmo a que baixou o desemprego", enfatiza.
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