A revitalização da comunidade portuguesa no Canadá é hoje em dia feita pelas gerações já nascidas no país, dado que a imigração oriunda de Portugal é escassa, indicou à Lusa o cônsul português em Montreal.
Segundo Carlos Oliveira, o grande fluxo migratório de portugueses rumo ao Canadá, iniciado na década de 1950, registou uma trajectória de diminuição acentuada nos anos 1980, mostrando-se hoje praticamente estagnado.
"A revitalização da comunidade portuguesa realiza-se, não por nova emigração, que é muito reduzida, mas sim com base nos luso-descendentes que são por direito canadianos. Isto explica o envelhecimento e perda de velocidade do movimento associativo", devido ao alheamento dos jovens, referiu.
O diplomata, que falava à Lusa no âmbito do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se assinala a 10 de Junho, exemplificou que o último levantamento feito pelo consulado revelou que dos cerca de 30 mil inscritos na área consular de Montreal, 50 por cento têm mais de 50 anos.
Entre os factores que contribuíram para a diminuição da emigração portuguesa, estão as elevadas exigências do sistema de imigração canadiano e, por outro lado, o acesso ao mercado laboral europeu, geográfica e culturalmente mais próximo dos portugueses.
Com o correr dos tempos, também as motivações dos emigrantes evoluíram.
No passado centravam-se nas carências económicas ou factores políticos, agora escolhe-se o Canadá por se ter já ligações familiares no país, trabalho garantido ou para prosseguir estudos universitários e especializações profissionais.
A família Ribeiro, oriunda de Santiago do Cacém, é dos últimos emigrantes portugueses a chegarem a Vancouver, na costa oeste canadiana, protagonizando um caso de reagrupamento familiar.
"Eu e o meu filho viemos em 2004 para nos juntarmos ao meu marido, que já aqui estava a trabalhar desde 2001", contou à Lusa Elisa Ribeiro, que é já residente permanente no Canadá.
A decisão de emigrar aos 50 anos de idade levou-a a pedir uma licença sem vencimento na autarquia onde trabalhava, e no Canadá queixa-se que a língua tem sido o maior obstáculo à sua plena integração social.
"Não tem sido fácil para mim e já colocámos a hipótese de regressarmos a Portugal. Mas eu tenho de cá ficar", disse, justificando que o marido e filho gostam de viver no Canadá.
Os bons empregos e perspectivas de futuro são também motivos para ficar.
Caso diferente é o de Lino Gomes, 30 anos, um emigrante solitário que viajou para o Canadá via França, no âmbito de um projecto universitário.
Natural de Murça, este transmontano tinha nove anos quando emigrou com os pais para Lyon, França, onde ingressou na Escola Superior de Arquitectura.
"Vim para a Universidade de Montreal para trabalhar num projecto de um laboratório de pesquisa na área da arquitectura e depois decidi ficar e fazer um mestrado em ciências de ordenamento, que já conclui", disse à Lusa.
Lino pretende ficar a médio prazo no Canadá pelos "bons amigos", e pelas boas condições oferecidas na sua área.
Estima-se que no Canadá existam meio milhão de portugueses e luso-descendentes, concentrados nas regiões de Toronto, Montreal e Vancouver.
Correio do Minho, aqui.