"Eu acho que o tempo é bom para que as coisas decantadas apareçam depois ao de cima como o azeite e a verdade", afirmou Rocha Vieira que se encontra de visita a Macau a convite das autoridades locais.
O general, que quarta-feira segue para Pequim a convite das autoridades chinesas, disse também "que o tempo e a História vão-se fazer" e que há-de "contribuir para que os anos da administração portuguesa" em que exerceu o cargo de governador "também possam ficar na História com relatos verdadeiros e fidedignos e testemunhos daquilo que foi feito".
"Hei-de contribuir para que esse futuro responda a essa responsabilidade que é que a História possa ficar escrita e possa ser legada como um testemunho do trabalho e das responsabilidades que Portugal teve em Macau", acrescentou.
Quanto a prazos não há, garante o general.
"Não vou marcar prazos. Sabe que eu sou uma pessoa serena e tranquila, não tenho angústias, e acho que devemos ter em consciência que tudo tem o seu ritmo. Muitas vezes não tem o ritmo que nós gostamos, muitas vezes tem um ritmo que nos é imposto ou que nos é condicionado", disse.
Rocha Vieira, que hoje visitou o consulado e várias instituições portuguesas como a Casa de Portugal e a Escola Portuguesa, foi também recebido por Edmund Ho, o líder do Governo com quem conversou sobre a realidade de Macau e falou sobre a presença e instituições portuguesas.
"Eu sei que ele tem acarinhado a presença portuguesa e estivemos a conversar sobre isso. Também tínhamos conversado quando eu era governador (...) e recordamos muitos dos propósitos em que para nós era pacífico que a comunidade portuguesa era importante para a identidade de Macau", disse.
De anos depois da transferência de poderes, Rocha Vieira constata que a "comunidade portuguesa, mesmo a mais recente, aquela que tem chegado já depois da transição, é uma comunidade que não se sente aqui como um estrangeiro numa outra terra, mas que se integra na população, faz parte da realidade de Macau e contribui para o progresso e para o desenvolvimento de Macau".
Para Rocha Vieira, a comunidade portuguesa "é útil a Macau e essa especificidade faz com que Macau dentro da Grande China continue a manter a sua diferença, seja um território do segundo sistema em que o modo de vida das pessoas, as garantias que a Lei Básica lhes dá (...) são respeitadas e que as pessoas que estavam em Macau continuam a viver como se não tivesse havido mudança de administração".
Se os primeiros dez anos são positivos para a comunidade portuguesa, o futuro irá manter-se idêntico já que para o último governador português da cidade, Chui Sai On, até agora o único candidato à chefia do Executivo, vai manter a linha de rumo traçada por Edmund Ho.
"Estou muito satisfeito que o doutor Chui Sai On venha a ser chefe do Executivo (...) e julgo também que é uma garantia pelo respeito pela comunidade portuguesa e pelo apoio à comunidade".
Rocha Vieira foi o último governador de Macau entre Abril de 1991 e Dezembro de 1999.
JCS.
Jornal Expresso, aqui, acedido em 21 de Junho de 2009