Contactos com empresários portugueses, uma visita à Assembleia da República onde foram recebidos pelo deputado Carlos Gonçalves e ainda encontros com o secretário de Estado das Comunidades, e o embaixador de França em Portugal foram os pontos altos do programa da comitiva de 15 autarcas e empresários proveniente da região de Nord-Pas de Calais. Na comitiva, destacava-se a presença do presidente da Câmara La Couture, Raymond Gaquère, e da vereadora da Cultura daquela autarquia, Anne Serniclay, e ainda do luso-descendente Bruno Cavaco, membro do Conselho Municipal da vila de Lens e responsável pela organização da viagem.
Uma visita que, entre outras questões, trazia na agenda a possibilidade de um futuro acordo de geminação com uma localidade do norte de Portugal, e contactos com vista a uma parceria da autarquia de La Couture com o Governo português para o restauro do monumento de homenagem aos soldados portugueses que perderam a vida na Batalha de La Lys, durante a Primeira Guerra Mundial.
Este era o principal objectivo da presença na comitiva do presidente da Câmara La Couture, Raymond Gaquère, em cuja vila está implantado o monumento que pertence ao Estado português e que se encontra "degradado", como afirmou a O Emigrante/Mundo Português, João Barbosa, dirigente associativo português naquela região. "O presidente da Câmara quer restaurar o monumento português para que este continue a transmitir às novas gerações a memória da participação portuguesa na Batalha de La Lys", afirmou João Barbosa, sublinhando que este foi um dos temas a abordar no encontro com o secretário de estado das Comunidades. Segundo o dirigente associativo, a mesma questão foi ainda apresentada ao assessor do ministro da Defesa, a quem também deram conta dos custos da obra de restauro do monumento.
Cartas em exposição
Bruno Cavaco revelou a intenção da autarquia de La Couture de organizar uma exposição com a correspondência trocada entre os soldados do Corpo Expedicionário Português e as suas famílias durante a guerra (1914-1918), que deverá ter lugar em Fevereiro de 2010, na igreja matriz da vila, e que foi o tema de uma reunião com responsáveis da Fundação Calouste Gulbenkian. Na região de Nord-Pas de Calais está localizado o cemitério militar português de Richbourg, onde estão enterrados cerca de dois mil portugueses mortos na Primeira Guerra Mundial.
O autarca luso-descendente destacou como o principal objectivo desta viagem, o desenvolvimento das relações "económicas, culturais e políticas" entre Portugal e aquela região de França. "Somos uma comunidade muito activa", afirmou, destacando ainda a sua ligação à comunidade portuguesa que o levou a trazer na agenda a questão do encerramento do consulado de Portugal em Lille, transformado em vice-consulado.
Um tema que abordou com o deputado Carlos Gonçalves, para quem o Governo deveria ter "reflectido" antes de optar pela mudança da estrutura consular. "Independentemente do importante número de portugueses que ali reside, a região de Nord-Pas de Calais, onde estava inserido o Consulado de Lille, é essencial em termos económicos e um sucesso de reconversão económica", afirmou o parlamentar a O Emigrante/Mundo Português no fim da vista guiada da delegação francesa à Assembleia da República. Carlos Gonçalves defende que deveria ter-se "reflectido e pensado mais na realidade sócio-económica daquela região para eventualmente termos tomado uma decisão diferente".
Sobre a vinda da comitiva a Portugal, considerou ser "importante" porque, entre outros aspectos, "há uma forte presença portuguesa naquela região, uma presença importante também a nível económico". Além disso, destacou o facto de virem conhecer "outro país, o seu meio político e as suas instituições".
Interesse em Portugal
Carlos Gonçalves lembrou que a região de Nord Pás de Calais passou há cerca de três décadas por "uma grave crise económica" motiva pela diminuição das actividades ligadas à grande metalurgia e à construção naval, mas soube ultrapassar a crise. "Esse dinamismo é algo que deve servir de exemplo a Portugal", acrescentou, referindo ainda o interesse "do conjunto de pequenas empresas portuguesas e até grandes empresas da região que cada vez mais querem investir em Portugal".
Para além do possível interesse económico, Carlos Gonçalves destacou a importância institucional da visita. "Há um conjunto de pessoas com responsabilidades políticas, que conhecem o nosso país mas que queriam conhecer as instituições, afirmou, defendendo que "só podemos construir a Europa quando ela deixar de ser apenas relações entre capitais".
A.G.P.
Mundo Português, aqui, acedido a 21 de Maio de 2009.