Construíram a pulso grandes fortunas e empresas e, nas regiões onde estão instalados, dominam mesmo os colegas franceses no seu ramo de negócios. Almoçam e jantam regularmente com as mais altas autoridades francesas – prefeitos, presidentes de regiões ou de câmaras, deputados e ministros. Têm em comum serem ricos, viverem em palacetes, possuírem barcos de lazer e conjuntos únicos, inacreditáveis, de dezenas de carros de coleção. E também o facto de terem sido emigrantes pobres e de terem começado a trabalhar quando ainda eram crianças. Muitos viveram nos anos 1960/70 no gigantesco bairro de lata português de Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, que ficou para a história como o maior bidonville de sempre em França (15 mil pessoas, num terreno baldio de 45 hectares).
Alguns foram emigrantes clandestinos, viveram anos a fio a chapinhar na lama, em barracas ou casitas em tijolo, sem eletricidade, sem água canalizada, sem retrete, sem esgotos e sem serviço de recolha do lixo. Comparando a situação dos portugueses da época do bairro de lata de Champigny com as condições sanitárias, minimamente corretas, em que vivem os emigrantes e refugiados na atual “Selva”, em Calais – onde se amontoam de três a cinco mil pessoas de diversas origens –, este bairro de lata do Norte da França é um luxo que, por vezes, alguns portugueses, emigrantes de há 50 anos, invejam.