Título Fintar fronteiras. Migrações internacionais no futebol português
Autor Carlos Nolasco
Orientadores José Manuel Mendes e João Peixoto
Ano 2013
Institutição Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra
Grau Doutoramento
Área Sociologia, especialidade de sociologia da produção, do trabalho e da empresa
Palavras-chave Migrações internacionais, migrações desportivas
URI http://hdl.handle.net/10316/23782
Resumo
O futebol é um dos mais importantes fenómenos sociais contemporâneos. Atualmente, os resultados desportivos traduzem-se em algo mais do que meras vitórias e derrotas de um jogo, sendo também a expressão de ganhos ou perdas culturais, políticas e económicas. Num contexto de intensa competição, acentuada pelas dinâmicas da globalização, o universo futebolístico procura maximizar desempenhos tornando, por isso, imperativa a procura incessante de jogadores com características físicas, competências técnicas e táticas e mentalidade competitiva, capazes de materializar em vitórias as aspirações dos adeptos, dos clubes e dos investidores. Quando esses jogadores não são encontrados no espaço nacional, ou a relação de procura e oferta sugere outros mercados de trabalho, são procurados fora do país, suscitando processos migratórios. Desta forma, tal como noutras áreas onde se regista uma elevada mobilidade internacional de trabalhadores, também no futebol ocorrem relevantes processos de mobilidade internacional de jogadores. Um volume crescente de futebolistas profissionais tem, assim, vindo a deslocar-se entre países, determinando a forma como as competições decorrem. O futebol português não ficou indiferente a tais dinâmicas migratórias. Não sendo um processo recente, adquiriu nos últimos anos importância pelo enorme número de jogadores estrangeiros a representar clubes portugueses, bem como pelo elevado número de jogadores portugueses em clubes estrangeiros. É na compreensão das dinâmicas migratórias do futebol português que se centra este trabalho. Assume, como ponto de partida, a relevância sociológica do desporto, e em particular do futebol, enquanto expressivo fenómeno social das sociedades contemporâneas. Parte-se, para tal, da consideração de que as sociedades contemporâneas são marcadas por “turbulências” migratórias, evidentes na diversidade e complexidade dos fluxos de pessoas. Considera que o futebol profissional, enquanto atividade laboral, suscita migrações internacionais de trabalho desportivo que, apesar da sua especificidade, se inserem na dinâmica da “idade das migrações”. Assume como objeto de análise essa entidade de contornos difusos que é o futebol português, a qual engloba todo o futebol praticado em Portugal, incluindo o que é praticado por jogadores estrangeiros em Portugal e por portugueses no estrangeiro. Propõe como hipótese principal de trabalho que o processo migratório de futebolistas se constitui como um movimento de trabalhadores, num contexto de globalização, onde a sociedade portuguesa, sendo simultaneamente país de imigração e emigração, funciona como “plataforma giratória” de jogadores entre a periferia e o centro. O trabalho de investigação realizado pressupõe o recurso a uma estratégia metodológica plural, que conjuga abordagens quantitativas e qualitativas enquanto estratégia para abranger, de forma ampla, a realidade em análise. Através do trabalho empírico constata-se que as migrações do futebol português inserem-se nas dinâmicas migratórias da arena desportiva global, com a particularidade de serem em simultâneo movimentos de entrada e de saída de jogadores, e os clubes portugueses serem espaços de origem e de destino de fluxos migratórios. Estes movimentos seguem duas tendências: por um lado, as características do mercado de trabalho futebolístico que funcionam simultaneamente como fator de atração e repulsão de jogadores; por outro, afinidades históricas e sociais, que inserem as migrações de jogadores no amplo sistema migratório lusófono.