Portugueses e luso-descendentes,
Neste Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas, saúdo os Portugueses que vivem ou trabalham fora do
seu País, bem como os luso-descendentes que, nas sete partidas do mundo, mantêm
acesa a chama da portugalidade.
"Quanto mais longe vou, mais perto
fico," foram palavras que Miguel Torga nos legou, num inesquecível poema.
Torga conheceu e viveu a realidade da diáspora, sabia do que falava.
É essencial sabermos do que falamos, quando
falamos da diáspora portuguesa. Por isso me tenho esforçado para contactar de
perto as comunidades portuguesas dispersas pelo mundo.
Sempre que me desloco em visitas oficiais
ao estrangeiro - como sucedeu este ano, na viagem que fiz à Alemanha -, procuro
que o programa oficial inclua momentos de diálogo directo com as comunidades da
diáspora.
É fundamental conhecermos a realidade
concreta dos Portugueses que emigraram. Só assim estaremos a par dos seus
anseios, das suas necessidades, do seu amor à Pátria, do seu profundo e
comovente desejo de preservar os laços que os unem a Portugal.
Mas estes laços têm de ser materializados
em acções concretas. Não bastam meras palavras de apreço nem simples discursos
de ocasião.
Não é possível construir uma relação
autêntica com as comunidades tendo por base apenas proclamações retóricas sobre
os afectos ou os sentimentos.
Deve garantir-se que os Portugueses da
diáspora mantenham laços efectivos com o Portugal de onde partiram. Entre eles,
avulta, naturalmente, o vínculo da cidadania. Por isso, defendi, através de
actos concretos, que o exercício dos direitos cívicos pelos emigrantes fosse
assegurado de forma plena.
Não esqueçamos que, como disse o escritor
Mia Couto, a identidade dos emigrantes é uma «identidade fugidia».
É imprescindível que a identidade dos
nossos emigrantes não seja fugidia e que, com o passar dos anos, não se percam
os elementos essenciais que ligam as comunidades da diáspora à terra de onde
vieram. Porque essa terra tem um nome: Portugal.
E, como Portugueses que todos somos, temos
um dever colectivo e patriótico: tornar real o que pode ser fugidio, construir
uma identidade própria, capaz de superar as distâncias e as saudades.
No século XXI, em que as distâncias
diminuem num mundo global, as questões relacionadas com a diáspora não podem
continuar a ser tratadas através do tradicional discurso saudosista e
passadista, em que se enaltecem os afectos mas se esquecem as realizações
concretas.
Não por acaso, ainda ontem tive o gosto de
distinguir com o "Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora
Portuguesa" um jovem que, na Holanda, criou uma empresa de aplicações de
"software" para telemóveis que factura 2 milhões de euros por ano e
tem 70 milhões de utilizadores, e um português, residente na Califórnia,
presidente de uma empresa agro-alimentar, a maior produtora mundial de
batata-doce biológica, que factura 36 milhões de euros por ano e emprega 700
pessoas.
Orgulho-me de ter contribuído para que a
política da diáspora esteja mais atenta à necessidade imperiosa de manter
intocados os direitos cívicos dos emigrantes.
Orgulho-me de Portugal e de ser Português.
E, neste dia 10 de Junho, quero dizer muito vincadamente: orgulho-me de todos
os que querem continuar a ser Portugueses.
O Jornal, aqui, acedido em 15 de Junho de 2009