Por Céu Neve
As detenções em países estrangeiros subiram nos primeiros três meses do ano. Só nas cadeias francesas há neste momento 557 portugueses. Rússia, Letónia e Polónia têm pela primeira vez presos nacionais.
Quatro da tarde no jardim em frente à Câmara de Lambeth, em Stockwell, o bairro londrino da comunidade portuguesa. É o local onde vagueiam os toxicodependentes, alguns portugueses. O consumo de droga é um problema que se agrava entre os emigrantes e o seu tráfico é o principal motivo de detenção dos nacionais no estrangeiro. Não só em Inglaterra como em todo o mundo. Os últimos dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros indicam um aumento de detidos, 1531 no total.
Mas, alertam as autoridades oficiais, os "dados não são exaustivos". As embaixadas e os consulados só registam quem pede apoio.
A Inglaterra é o sexto na lista dos 42 com portugueses nos seus estabelecimentos prisionais. Em primeiro lugar está a França, com 557 emigrantes presos, representando um terço do total. Os países que se seguem na lista têm muito menos detidos lusos: o Luxemburgo (150), os Estados Unidos (135), a Espanha (133) e o Brasil (95).
Além do aumento de detenções nos últimos três meses, a estatística mostra uma inversão da tendência de descida que se verificava desde 2005, quando havia 1873 portugueses nas cadeias internacionais. E surgem três novos países com detenções de emigrantes, todos da Europa do Leste: a Polónia, a Letónia e a Rússia.
Em Inglaterra, estão presos 82 emigrantes, 56 dos quais estão na área de jurisdição do Consulado Geral em Londres. Metade cumpre pena por tráfico de droga e os restantes dividem-se por crimes de furto, assédio, violação, ofensas corporais, burla e homicídio
No centro de Londres, no jardim de Stockwell, os homens e mulheres que ali passam noites e dias não dão sinais de se importarem com o que os rodeia, muito menos em se registarem no consulado. Importam-se com o imediato: obter dinheiro para consumir. Uma ou outra vez têm a visita da polícia.
À droga junta-se o consumo de álcool, o que potencia um terceiro motivo que leva os membros da comunidade portuguesa à prisão: a violência doméstica.
A situação é reconhecida pelo cônsul-geral em Londres, Macedo de Leão. "Há um grande consumo de droga em Inglaterra e as pessoas convencem-se de que não são apanhadas se traficarem, mas são. A nível da violência doméstica, as leis inglesas são muito rígidas e os portugueses convencem- -se de que podem bater nas mulheres", diz. A federação de associações de emigrantes de Inglaterra criou uma comissão de saúde, que está a desenvolver um projecto para informar a comunidade. "A falta de informação é o principal problema e é um obstáculo à sua integração. Uma das barreiras da comunidade emigrante mais antiga é o desconhecimento da língua e as pessoas acabam por não ter acesso a determinados cuidados de saúde", refere a bióloga Vera Henriques, responsável do grupo.
A comissão de saúde também está a colaborar com as autoridades policiais locais no sentido de combater a violência doméstica e os consumos de droga e de álcool. "O consumo de álcool e de droga gera a formação de gangues. Existe uma grande adesão dos jovens portugueses, muitos dos quais nasceram em Inglaterra, aos gangues", diz Vera Henriques.
Diário de Noticias, aqui, acedido em 15 de Junho de 2009