Dez mil portugueses recebiam subsídio de desemprego em Espanha em Dezembro de 2008. E, desde Outubro, são menos 6142 os que estão inscritos na segurança social espanhola. Uma diminuição que é consequência da crise económica do País e que, segundo as estruturas sindicais, está a afectar mais os portugueses.
Os dados do Instituto de Nacional de Estatísticas do Emprego espanhol (INEM) apenas indicam a realidade oficial das migrações. São 69.039 os inscritos na segurança social, sendo que 14,6% recebem subsídio de desemprego, e 181.097 os que têm residência no País.
Mas há um outro fluxo de portugueses que, de 15 em 15 dias, todas as semanas - e, às vezes, diariamente - atravessam a fronteira para trabalhar na construção civil em Espanha. São temporários e não têm registo nas estatísticas espanholas.
Numa reportagem do DN, publicada no dia 22 de Fevereiro de 2008, estimava-se que eram cerca de 60 mil os trabalhadores temporários portugueses. Os dirigentes do Sindicato da Construção do Norte dizem que cem mil portugueses trabalhavam na construção civil espanhola o ano passado. Um sector em que a taxa de desemprego ronda os 17%, quando a nível nacional é de 13,9%, sublinha Joan Melon, do sindicato do sector de Galiza, que acrescenta que a crise sente-se na falta da construção privada, já que as obras públicas não pararam.
Joan Melon nega que exista qualquer tipo de discriminação entre trabalhadores portugueses e trabalhadores espanhóis e que, no início da crise, eram os nativos os mais afectados. Agora, o desemprego prejudica mais os portugueses, com a agravante de que o governo espanhol lhes está a dificultar o subsídio por considerar que são trabalhadores temporários.
A maioria dos trabalhadores está a regressar a Portugal, ou a emigrar para outros países, em especial Angola, o novo el dorado. Os distritos mais afectados são os do Norte de Portugal, onde as pessoas foram "contratadas por sub-empreiteiros" portugueses.
"Há muitos trabalhadores que estão a vir embora de Espanha, mas é difícil quantificar", afirma o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do distrito de Braga.
José Maria Ferreira explica que a situação é mais grave, porque muitos deles regressam sem remuneração e perspectiva de emprego. Alguns deles, a residir nas zonas do interior, terão de emigrar para outros países à procura de alternativas. Pior, sublinha, "metade dos 40 mil operários dos distritos de Braga e de Viana serão trabalhadores ilegais", em Espanha.
Mas não é apenas em Espanha que os emigrantes estão a ser afectados pela crise. Um pouco por toda a Europa há um fluxo de regresso ao País, o que depende da estabilidade conseguida no local de acolhimento.
Por isso, os sindicalistas dizem que os temporários são os mais afectados, embora não se conheçam os números oficiais, precisamente porque não há registo da sua presença. Com SUSANA PINHEIRO, Braga, e AMADEU ARAÚJO, Viseu
Diário de Notícias, aqui, acedido em 5 de Fevereiro de 2009.