Nos últimos três anos, 30 mil portugueses chegaram a Angola para trabalhar, mas os primeiros sinais de que o país não é o "El Dorado" tão falado começam a surgir. Responsáveis ligados ao sector empresarial português admitiram à Agência Lusa que se multiplicam os casos de portugueses que foram obrigados a regressar a Portugal
Mas isso está longe de demover os portugueses a partirem para Angola como as cifras oficiais e as estimativas, também oficiais, apontam. De acordo com dados do Consulado Geral de Portugal em Luanda, actualmente estão inscritos cerca de 72 mil portugueses, 15 mil dos quais nos últimos três anos.
Mas, porque a inscrição consular não é obrigatória, a estimativa é que por cada inscrito exista um que não o faz, totalizando à volta de 30 mil os novos membros da comunidade portuguesa em Angola, explicou à Lusa o Cônsul Geral em Luanda, Pedro Silva Rodrigues.
Dados sobre os regressos "forçados" não existem mas podem ser muitas centenas no último ano, porque, como explicou à Lusa uma fonte ligada aos investimentos portugueses em Angola, "os casos que passam de boca em boca sobre regressos inusitados vão-se multiplicando".
Apesar disto, os números da Agência Nacional para o Investimento Privado em Angola (ANIP) não enganam quanto à importância que o país tem para os investidores portugueses. Em 2007, esse investimento chegou aos 235 milhões de dólares, com 247 projectos aprovados, e, em 2008, subiu para os 615 milhões de dólares.
Além dos grandes investimentos, como os das construtoras, sector bancário ou telecomunicações, existem centenas de projectos de pequena e média dimensão, desde as madeiras e móveis, medicamentos ou maquinaria, que exigem mão-de-obra qualificada não existente em Angola e são um forte impulso para a emigração portuguesa.
Um dos exemplos desta realidade é o de José Castro, técnico qualificado na área da climatização e refrigeração que partiu há um ano da cidade de Viseu, em Portugal, e rapidamente teve sucesso profissional em Angola. José Castro explica o motivo do sucesso: "O mercado angolano tem muita falta de técnicos qualificados nestas áreas".
Mas nem tudo são rosas e este emigrante diz ter conhecimento de que "são ainda bastantes" os portugueses que chegam a Angola e têm de regressar porque "não trazem na bagagem as respostas que o mercado pretende" em matéria de qualificação. Outro exemplo é o de Carlos M. que está em Luanda há dois anos como quadro médio de uma empresa ligada à importação de produtos alimentares e admitiu à Lusa que tem "um excelente contrato", que lhe permite ganhar "muito mais que em Portugal".
Mas Carlos M. considerou que o cenário de hoje "não é o mesmo de há dois anos", efeitos da crise económica e financeira mundial.
"As coisas estão a mudar. Há sinais disso que são evidentes, como o facto de algumas pessoas que conheço e que estavam em empresas importantes, terem regressado a Portugal nas últimas semanas", disse.
O Governo já informou que um número significativo de projectos de obras públicas foi anulado ou colocado em "standby" até que a crise esmoreça.
As autoridades angolanas confirmam ainda outro dado negativo para os investidores estrangeiros. A crise provocou uma grande escassez de divisas no mercado, levando a maiores dificuldades nas transferências de dinheiro para o exterior.
Público, aqui, acedido em 9 de Julho de 2009.