Saúde. A empresa GlobalMediRec colocou um anúncio no portal da Ordem dos Médicos para contratar 15 clínicos portugueses para hospitais públicos ingleses, pagando entre 6750 e 7900 euros brutos por mês. Médicos e sindicatos alertam para o perigo de muitos profissionais abandonarem o País numa altura em que também faltam recursos nas nossas unidades de saúde
Os hospitais públicos britânicos estão à procura de médicos portugueses para trabalhar nas urgências. Os ordenados são atractivos: entre 6750 e 7900 euros brutos por mês. A empresa GlobalMediRec, de recrutamento de profissionais de saúde, colocou um anúncio no portal da Ordem dos Médicos a pedir 15 clínicos para um hospital do serviço nacional de saúde britânico.
A empresa adianta que serão feitos contratos de seis meses ou um ano e oferece-se para tratar de todas as burocracias e logística da mudança, incluindo a inscrição no General Medical Council (GMC), obrigatória para exercer no país. A falta de clínicos em Inglaterra, onde se estima que 7400 dos 34 mil médicos sejam estrangeiros, leva a uma política agressiva das agências de recrutamento, que procuram médicos em todo o mundo (ver texto ao lado). Segundo o GMC, há 107 médicos portugueses registados no País.
Para Rui Guimarães, presidente do Conselho Nacional do Médico Interno, esta é uma nova tendência que vai acentuar-se. "Já havia alguns anúncios em revistas da especialidade, sobretudo a nível europeu. Este, é directamente para portugueses", diz. E acrescenta: "Em Portugal, um médico que tenha acabado a especialidade ganha cerca de 1800 euros brutos por 35 horas semanais. Por isso, os valores oferecidos são muito aliciantes."
Luís Campos, médico internista, explica que ao solicitar clínicos para as urgências, este anúncio destina-se em grande parte aos de Medicina Interna. No entanto, esclarece, podem concorrer médicos de várias especialidades. "Os nossos médicos têm uma capacidade prática muito apreciável nas urgências, devido a uma boa formação", refere.
Andrew Marks, da GlobalMediRec, diz que embora não tenham tido uma "resposta em massa" , a empresa tem recebido "respostas muito interessantes, de pessoas qualificadas". E se esta acção "correr bem" planeiam continuar. "Estamos sempre a precisar de médicos, de várias especialidades", conclui. Aliás, Marks explica que empresa já tinha pensado recrutar em Portugal antes, mas estava à procura do local certo para chegar aos médicos. Acabou por encontrá-lo no site da Ordem dos Médicos. "Portugal tem boa reputação e os médicos de países da UE não precisam de fazer testes para exercer no Reino Unido (RU)", acrescenta.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, esta é "uma consequência inevitável do mercado comum europeu". No entanto, o bastonário considera que a emigração entre os médicos é muito baixa e que no "contexto actual estas ofertas ainda não são uma ameaça", nem devem preocupar as autoridades de saúde.
Já Luís Campos alerta que a emigração entre os médicos pode causar problemas porque "neste momento o País não está em condições de dispensar ninguém". O internista lembra que "há falta de médicos em Portugal e, embora seja mais grave na medicina familiar, também afecta as especialidade" . E avisa: "A situação vai agravar-se nos próximos anos."
Também Mário Jorge Neves, da Federação Nacional dos Médicos, considera que "não faz sentido haver acções de aliciamento quando temos tantas carências".
Mas, segundo Rui Guimarães. a ida de portugueses para os hospitais de outros países europeus "é muito difícil combater". Em Mal- ta, conta, três quartos dos licenciados vão trabalhar para o Reino Unido.
Para o presidente do Conselho Nacional dos Médicos Internos a solução é "planear melhor a formação e trabalhar para reconstruir um espírito de equipa à volta do Serviço Nacional de Saúde".
Questionado pelo DN, o Ministério da Saúde promete acompanhar a situação.
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